O que queres que eu te faça?
Esse foi o desafio de Elias para o seu discípulo Eliseu logo após
terem atravessado o Jordão. Essa pergunta não ocorreu antes de uma longa
jornada percorrida pelos dois companheiros de ministério. Tudo indica que essa
foi uma maneira que Deus encontrou para usar Elias como um canal para provar a
fé, o ânimo, a determinação e a perseverança de seu ilustre aluno. Vejamos como
se deu isso:
Gilgal; o ponto de partida (II Rs 2:1)
Quando iniciamos o capítulo dois do segundo livro dos reis,
encontramos Elias partindo de Gilgal com Eliseu. Desde este lugar até o Jordão,
toda a caminhada que se segue parece ter uma conotação memorial, a fim de
inspirar e desafiar aquele que sonhava não apenas suceder seu mestre, como
também ser presenteado com uma porção ainda maior de força interior para
realizar o cumprimento de seu chamado profético. Eliseu parece ter antevisto o
que Jesus diria cerca de oitocentos anos a frente quando ensinou que aqueles
que cressem Nele fariam as obras que realizava e ainda maiores (cf. Jo 14:12).
Não é possível saber exatamente de onde Eliseu tirou esta idéia, mas
dá pra imaginar que o que ele via e percebia do estado de coisas que envolvia a
situação social e espiritual daquela geração o desafiava a querer mais de Deus
para enfrentar tudo aquilo, afinal era um tempo de reis ruins que conduzia o
povo a uma idolatria cada vez maior. Só o poder do Altíssimo manifestado na
terra poderia confrontar com eficácia toda ação das trevas que se multiplicava.
Se a intenção era usar os locais pra falar ao coração de Eliseu, vejamos
o que era possível se recordar neste primeiro ponto.
Gilgal foi o primeiro acampamento dos Israelitas depois de terem
atravessado o Jordão após a morte de Moisés. Ali o povo teve que ser
circuncidado novamente, pois durante os quarenta anos no deserto não houve
circuncisão, o corte que o Senhor havia dito que deveria ser feito no prepúcio
de todos os descendentes masculinos de Abraão, pois esta era a Aliança que os
fazia seu povo. É interessante pensar que aquele povo que já estava do outro
lado do Jordão já estava bastante feliz por isso, mas segundo os termos da
Aliança entre Deus e o patriarca, não havia legitimidade para que se sentissem
povo de Deus. Se pensarmos que este corte foi proposto originalmente para ser
feito ao oitavo dia de nascimento, dá pra imaginar o nível de dor que os agora
já homens teriam que enfrentar para cumprir a ordenança. O texto sagrado não dá
detalhes, mas o certo é que eles obedeceram. Agora estavam todos doloridos e
marcados com essa “cirurgia” feita tão primitivamente com facas de pederneira,
mas também podiam declarar de boca cheia que faziam parte do povo de Deus, com
direito legal para se apropriar da terra dada ao seu ilustre antecessor.
Se quisermos associar isso a caminhada profética dos nossos
personagens, entendemos que o Senhor lembra seu aspirante a profeta de dupla
unção que quem quer tal experiência precisa ter Aliança com Ele e carregar as
marcas dessa Aliança, mesmo que isso cause dor. Na verdade, o povo que deseja
carregar a unção dobrada precisa ser um povo de sacrifício (louvor, adoração,
jejum, oração, evangelismo, missões, leitura da Palavra, freqüência nas
reuniões, etc.). Gilgal é um lugar aonde se corta a carne.
Em Gilgal também foi celebrada a Páscoa. Entre outras coisas, a Páscoa
é a lembrança da poderosa libertação do Egito e da derrota de Faraó. É muito
importante que quem almeja a porção dobrada jamais se esqueça do que Jesus
realizou por nós no Calvário. De como Ele tomou sobre Si nossos pecados,
iniqüidades, transgressões, dores e enfermidades; expondo os principados e
potestades a vergonha. Essa forte unção deve ser usada para apregoar estas
verdades sem temer o adversário.
Outras coisas aconteceram em Gilgal, mas para não me estender muito
vou acrescentar apenas que foi ali que Josué teve um poderoso encontro com o
Príncipe dos Exércitos do Senhor, o qual não é outro se não o próprio Senhor
Jesus pré-encarnado. Quem busca a unção desta última hora deve se lembrar do
que Jesus disse: E certamente estou convosco todos os dias, até a consumação do
século (Mt 28:20b). E isso faz toda a diferença.
Betel, a Casa de Deus (II Rs 2:2 e 3)
De Gilgal foram a Betel. É nesse
ponto que começamos a observar o interesse de Elias em provar as intenções de
Eliseu. Ainda que não apresente nenhum motivo aparente, Elias diz a Eliseu que
o envio de Deus é pra ele e que o aluno deveria ficar em Gilgal. Mas Eliseu que
não é bobo nem nada afirma categoricamente que não permitirá que o mestre vá
sozinho.
Betel significa casa de Deus.
Isso nos indica que a unção dobrada exige conexão com a casa de Deus.
Infelizmente, vivemos no tempo dos “crentes borboleta”, pois uma hora estão
aqui e outra já estão lá. Isso acontece por desconhecimento de propósito. Não
se conhece o propósito que Deus tem para a casa de Deus local (igreja local),
nem o propósito de Deus para o crente individualmente. É a ligação destes dois
que faz com que uma pessoa se integre na casa do Senhor. Assim o crente pode
colocar tudo o que Deus plantou nele (propósito) a serviço das necessidades que
aquela congregação tem para responder seu chamado para aquela sociedade onde
está inserida. Eu não sirvo onde eu quero, sirvo onde Deus me planta e me traz
crescimento. Isso exige submissão, humildade, amor, compromisso, fidelidade,
etc.; coisas muito raras nestes dias. No entanto, se não honrarmos a casa de
Deus, Ele não nos honrará com a porção dobrada.
Em Betel encontramos pela
primeira vez os filhos dos profetas. Estes são também alunos da escola de
profetas, mas parecem não conseguir enxergar tão ousadamente quanto Eliseu.
Digo isso porque nenhum deles se via como primogênito de Elias, coisa que
Eliseu expressa quando pede para si o dobro da herança de seu “pai espiritual”.
Os filhos dos profetas tinham
acesso às mesmas informações sobrenaturais que Eliseu, pois informam que sabem
que Elias estava para ser levado. No entanto não fazem desta verdade nada além
de tentar provocar Eliseu ao desânimo. Só que quem sabe o que quer não dá
atenção a quem não pode acrescentar bons valores em sua jornada, e assim define
sua sentença pra este tipo de gente: calai-vos!
Jericó, um lugar de batalha e vitória sobrenaturais (II Rs 2:4 e 5)
Mais uma vez a perseverança e a
determinação do discípulo é provada pelo mestre que novamente diz ser enviado a
um novo destino, mas a resposta reafirma que não desistirá tão fácil. O alvo
agora é a cidade de Jericó.
Ali ele pôde se lembrar da grande
vitória que Israel experimentou. Liderados por Josué que obedeceu a absurda
orientação de vencer as grandes muralhas que cercavam a cidade rodeando-as por
seis dias uma vez, e no sétimo dia sete vezes; liberando um grande brado no
final. Ainda que esta seja uma história muito conhecida de todos nós,
incrivelmente ainda não entendemos que as armas da nossa milícia não são
carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas (II Co 10:4).
Carregar a porção dobrada coloca o servo de Deus frente a frente com algumas
das maiores fortalezas infernais. Mas em momentos como esse, lembramo-nos que o
Senhor sempre terá uma maneira única e surpreendente para confundir o
adversário, bastando apenas fazer como Josué, o qual obedeceu mesmo que parecesse
ridículo.
Assim como encontramos mais
incrédulos entre os crentes do que desejamos, também em Jericó Eliseu encontra
uma outra turma de alunos proféticos que não são capazes de acrescentar nada de
positivo à fé do que se sentia o primogênito de Elias. Sendo assim, mais uma
vez ele deixa essa turma para trás e segue o líder para mais um destino
memorial.
Jordão, o rio que desce e um limite natural (II Rs 6 -14)
O ponto final dessa jornada
indicava que Elias deveria ir ao Jordão e como o discípulo estava determinado a
não abandoná-lo; ambos foram juntos.
Nesse ponto fica claro o que
acontece com aqueles que ainda que tenham as mesmas informações sobrenaturais,
tratam isso com superficialidade e desinteresse: ficam a distância. Enquanto o
profeta seguido por seu aspirante a sucessor seguia para o alvo, todos os
demais pararam.
Daí em diante, só podem
participar aqueles que realmente tem negócios com o sobrenatural de Deus e a
manifestação do profético na terra. Elias toma a capa e com ela toca as águas,
as quais se abrem para que os dois e somente os dois passem em seco. Já do
outro lado é que se apresenta o desafio: o que você realmente quer Eliseu?
Antes que comentemos a resposta
de Eliseu, quero observar que Jordão é o nome de um rio, e seu significado é
aquele que desce. Como rio, ele é o limite natural da terra de Israel a leste.
Sendo assim, destacamos que a porção dobrada só se torna disponível para
aqueles que rompem seus limites. É preciso orar mais, ler mais, adorar mais,
investir mais, buscar mais, servir mais, amar mais, enfim, é preciso romper com
todo o limite imposto pela carne, o mundo ou as trevas. Os que querem e recebem
a unção dobrada só param quando o Senhor determina.
A quebra de limites tem a ver com
conceitos que nós mesmos formamos, e muitos deles não passam de estruturas
religiosas que nada tem com o Espírito. Lembrando que Jordão é aquele que
desce, isso indica que pra romper os limites, será necessário me humilhar e
quebrantar pra ver que a causa de muitas vezes não rompermos é porque nosso
orgulho nos faz proteger o nosso nome e reputação. Temos medo de errar tentando
fazer mais e nos expor a vergonha. Se vamos continuar em nossa área de
segurança, então não precisamos de unção dobrada. Jesus rompeu com todos os
seus limites e foi exposto a maior vergonha que alguém poderia experimentar, e
Ele é nosso modelo.
Voltando ao desafio, notamos que
Eliseu não tem nenhuma dificuldade para responder, afinal ele sabia muito bem o
que ele queria. Você que está lendo este texto sabe bem o que está esperando da
vida? O que está esperando que Jesus te faça? Quais são seus planos e projetos
para os próximos anos? Eliseu tinha a resposta na ponta da língua, pois era
isso que vinha buscando desde que a capa caiu sobre ele: Peço-te que haja
porção dobrada de teu espírito sobre mim (II Rs 2:9c).
Elias sabia que um pedido como
esse não poderia ser atendido por ele, e sim por Deus. E o bom disso é que ele
não disse ser impossível, mas apenas difícil. Além de todas as dificuldades e
condições que já observamos, o profeta diz que era necessário que o aspirante
mantivesse os olhos nele quando ele fosse levado. Se pensarmos no que aconteceu
com Elias como um arrebatamento, a exigência final para quem quer receber a
unção dobrada é não tirar os olhos do arrebatamento da Igreja. Isso tem a ver
com o entendimento de que este grande evento é iminente e que por isso não
podemos viver dissolutamente. É preciso conhecer as prioridades do Grande Rei e
investir tudo o que pudermos em seus planos de salvação, libertação, cura e
transformação para expansão do Reino, pois logo seremos removidos; e aí, toda e
qualquer unção deve já ter sido usada.
Quando estão caminhando
tranquilamente, acontece o inusitado: um carro de fogo e cavalos de fogo passa
entre os dois. Talvez esta seja a maior prova da determinação de Eliseu, pois
qualquer um de nós preferiria olhar para o grande espetáculo do carro e dos
cavalos. Mas o discípulo estava tão decidido que só tinha olhos para Elias, que
à estas horas estava sendo levado em um redemoinho para o céu. Não há dúvidas
de que o Altíssimo usará o Seu povo para operar grandes maravilhas nestes
últimos dias, mas com tudo o que Ele operar, como já foi dito, nada pode tirar
do compromisso de estarmos centrados no que o Rei deseja que façamos pra terminar
o trabalho até o arrebatamento.
E o resto da história já é
conhecido; pois o aspirante agora se tornou “os carros de Israel e seus
cavaleiros”, título que ele dera a seu amado mestre.
O fim está chegando. Estamos em
um tempo de guerras, fomes, pestes, terremotos, etc. É um tempo onde o amor de
quase todos esfria e a iniqüidade se multiplica, pois a apostasia é grande e os
homens são amantes de si mesmo.
Nunca foi tão necessário que o
povo de Deus carregasse mesmo uma unção sem limites pra tocar no norte e no
sul, no oriente e no ocidente. Na América, Europa, África, Ásia, Oriente Médio
e Oceania são gigantescos os desafios. Você tem coragem de sair do meio dos
filhos dos profetas e seguir o Espírito Santo por onde quer que Ele te guiar;
pra receber mais de Deus, pra fazer mais pra Deus e para os povos,
reinos, tribos, línguas e nações?
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Desejamos imensamente que este texto seja usado por Deus para abençoar a vida de todos que o lerem. No entanto, sabemos que podemos ser abençoados mutuamente com comentários edificantes. Se o Espírito Santo te guiar, esteja a vontade para fazê-lo!