domingo, 29 de março de 2015

O que queres que eu te faça?

O que queres que eu te faça?



Esse foi o desafio de Elias para o seu discípulo Eliseu logo após terem atravessado o Jordão. Essa pergunta não ocorreu antes de uma longa jornada percorrida pelos dois companheiros de ministério. Tudo indica que essa foi uma maneira que Deus encontrou para usar Elias como um canal para provar a fé, o ânimo, a determinação e a perseverança de seu ilustre aluno. Vejamos como se deu isso:

Gilgal; o ponto de partida (II Rs 2:1)


Quando iniciamos o capítulo dois do segundo livro dos reis, encontramos Elias partindo de Gilgal com Eliseu. Desde este lugar até o Jordão, toda a caminhada que se segue parece ter uma conotação memorial, a fim de inspirar e desafiar aquele que sonhava não apenas suceder seu mestre, como também ser presenteado com uma porção ainda maior de força interior para realizar o cumprimento de seu chamado profético. Eliseu parece ter antevisto o que Jesus diria cerca de oitocentos anos a frente quando ensinou que aqueles que cressem Nele fariam as obras que realizava e ainda maiores (cf. Jo 14:12).

Não é possível saber exatamente de onde Eliseu tirou esta idéia, mas dá pra imaginar que o que ele via e percebia do estado de coisas que envolvia a situação social e espiritual daquela geração o desafiava a querer mais de Deus para enfrentar tudo aquilo, afinal era um tempo de reis ruins que conduzia o povo a uma idolatria cada vez maior. Só o poder do Altíssimo manifestado na terra poderia confrontar com eficácia toda ação das trevas que se multiplicava.

Se a intenção era usar os locais pra falar ao coração de Eliseu, vejamos o que era possível se recordar neste primeiro ponto.

Gilgal foi o primeiro acampamento dos Israelitas depois de terem atravessado o Jordão após a morte de Moisés. Ali o povo teve que ser circuncidado novamente, pois durante os quarenta anos no deserto não houve circuncisão, o corte que o Senhor havia dito que deveria ser feito no prepúcio de todos os descendentes masculinos de Abraão, pois esta era a Aliança que os fazia seu povo. É interessante pensar que aquele povo que já estava do outro lado do Jordão já estava bastante feliz por isso, mas segundo os termos da Aliança entre Deus e o patriarca, não havia legitimidade para que se sentissem povo de Deus. Se pensarmos que este corte foi proposto originalmente para ser feito ao oitavo dia de nascimento, dá pra imaginar o nível de dor que os agora já homens teriam que enfrentar para cumprir a ordenança. O texto sagrado não dá detalhes, mas o certo é que eles obedeceram. Agora estavam todos doloridos e marcados com essa “cirurgia” feita tão primitivamente com facas de pederneira, mas também podiam declarar de boca cheia que faziam parte do povo de Deus, com direito legal para se apropriar da terra dada ao seu ilustre antecessor.

Se quisermos associar isso a caminhada profética dos nossos personagens, entendemos que o Senhor lembra seu aspirante a profeta de dupla unção que quem quer tal experiência precisa ter Aliança com Ele e carregar as marcas dessa Aliança, mesmo que isso cause dor. Na verdade, o povo que deseja carregar a unção dobrada precisa ser um povo de sacrifício (louvor, adoração, jejum, oração, evangelismo, missões, leitura da Palavra, freqüência nas reuniões, etc.). Gilgal é um lugar aonde se corta a carne.

Em Gilgal também foi celebrada a Páscoa. Entre outras coisas, a Páscoa é a lembrança da poderosa libertação do Egito e da derrota de Faraó. É muito importante que quem almeja a porção dobrada jamais se esqueça do que Jesus realizou por nós no Calvário. De como Ele tomou sobre Si nossos pecados, iniqüidades, transgressões, dores e enfermidades; expondo os principados e potestades a vergonha. Essa forte unção deve ser usada para apregoar estas verdades sem temer o adversário.

Outras coisas aconteceram em Gilgal, mas para não me estender muito vou acrescentar apenas que foi ali que Josué teve um poderoso encontro com o Príncipe dos Exércitos do Senhor, o qual não é outro se não o próprio Senhor Jesus pré-encarnado. Quem busca a unção desta última hora deve se lembrar do que Jesus disse: E certamente estou convosco todos os dias, até a consumação do século (Mt 28:20b). E isso faz toda a diferença.

Betel, a Casa de Deus (II Rs 2:2 e 3)


De Gilgal foram a Betel. É nesse ponto que começamos a observar o interesse de Elias em provar as intenções de Eliseu. Ainda que não apresente nenhum motivo aparente, Elias diz a Eliseu que o envio de Deus é pra ele e que o aluno deveria ficar em Gilgal. Mas Eliseu que não é bobo nem nada afirma categoricamente que não permitirá que o mestre vá sozinho.

Betel significa casa de Deus. Isso nos indica que a unção dobrada exige conexão com a casa de Deus. Infelizmente, vivemos no tempo dos “crentes borboleta”, pois uma hora estão aqui e outra já estão lá. Isso acontece por desconhecimento de propósito. Não se conhece o propósito que Deus tem para a casa de Deus local (igreja local), nem o propósito de Deus para o crente individualmente. É a ligação destes dois que faz com que uma pessoa se integre na casa do Senhor. Assim o crente pode colocar tudo o que Deus plantou nele (propósito) a serviço das necessidades que aquela congregação tem para responder seu chamado para aquela sociedade onde está inserida. Eu não sirvo onde eu quero, sirvo onde Deus me planta e me traz crescimento. Isso exige submissão, humildade, amor, compromisso, fidelidade, etc.; coisas muito raras nestes dias. No entanto, se não honrarmos a casa de Deus, Ele não nos honrará com a porção dobrada.

Em Betel encontramos pela primeira vez os filhos dos profetas. Estes são também alunos da escola de profetas, mas parecem não conseguir enxergar tão ousadamente quanto Eliseu. Digo isso porque nenhum deles se via como primogênito de Elias, coisa que Eliseu expressa quando pede para si o dobro da herança de seu “pai espiritual”.
Os filhos dos profetas tinham acesso às mesmas informações sobrenaturais que Eliseu, pois informam que sabem que Elias estava para ser levado. No entanto não fazem desta verdade nada além de tentar provocar Eliseu ao desânimo. Só que quem sabe o que quer não dá atenção a quem não pode acrescentar bons valores em sua jornada, e assim define sua sentença pra este tipo de gente: calai-vos!

Jericó, um lugar de batalha e vitória sobrenaturais (II Rs 2:4 e 5)


Mais uma vez a perseverança e a determinação do discípulo é provada pelo mestre que novamente diz ser enviado a um novo destino, mas a resposta reafirma que não desistirá tão fácil. O alvo agora é a cidade de Jericó. 

Ali ele pôde se lembrar da grande vitória que Israel experimentou. Liderados por Josué que obedeceu a absurda orientação de vencer as grandes muralhas que cercavam a cidade rodeando-as por seis dias uma vez, e no sétimo dia sete vezes; liberando um grande brado no final. Ainda que esta seja uma história muito conhecida de todos nós, incrivelmente ainda não entendemos que as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas (II Co 10:4). Carregar a porção dobrada coloca o servo de Deus frente a frente com algumas das maiores fortalezas infernais. Mas em momentos como esse, lembramo-nos que o Senhor sempre terá uma maneira única e surpreendente para confundir o adversário, bastando apenas fazer como Josué, o qual obedeceu mesmo que parecesse ridículo.

Assim como encontramos mais incrédulos entre os crentes do que desejamos, também em Jericó Eliseu encontra uma outra turma de alunos proféticos que não são capazes de acrescentar nada de positivo à fé do que se sentia o primogênito de Elias. Sendo assim, mais uma vez ele deixa essa turma para trás e segue o líder para mais um destino memorial.

Jordão, o rio que desce e um limite natural (II Rs 6 -14)


O ponto final dessa jornada indicava que Elias deveria ir ao Jordão e como o discípulo estava determinado a não abandoná-lo; ambos foram juntos.

Nesse ponto fica claro o que acontece com aqueles que ainda que tenham as mesmas informações sobrenaturais, tratam isso com superficialidade e desinteresse: ficam a distância. Enquanto o profeta seguido por seu aspirante a sucessor seguia para o alvo, todos os demais pararam.

Daí em diante, só podem participar aqueles que realmente tem negócios com o sobrenatural de Deus e a manifestação do profético na terra. Elias toma a capa e com ela toca as águas, as quais se abrem para que os dois e somente os dois passem em seco. Já do outro lado é que se apresenta o desafio: o que você realmente quer Eliseu?

Antes que comentemos a resposta de Eliseu, quero observar que Jordão é o nome de um rio, e seu significado é aquele que desce. Como rio, ele é o limite natural da terra de Israel a leste. Sendo assim, destacamos que a porção dobrada só se torna disponível para aqueles que rompem seus limites. É preciso orar mais, ler mais, adorar mais, investir mais, buscar mais, servir mais, amar mais, enfim, é preciso romper com todo o limite imposto pela carne, o mundo ou as trevas. Os que querem e recebem a unção dobrada só param quando o Senhor determina.

A quebra de limites tem a ver com conceitos que nós mesmos formamos, e muitos deles não passam de estruturas religiosas que nada tem com o Espírito. Lembrando que Jordão é aquele que desce, isso indica que pra romper os limites, será necessário me humilhar e quebrantar pra ver que a causa de muitas vezes não rompermos é porque nosso orgulho nos faz proteger o nosso nome e reputação. Temos medo de errar tentando fazer mais e nos expor a vergonha. Se vamos continuar em nossa área de segurança, então não precisamos de unção dobrada. Jesus rompeu com todos os seus limites e foi exposto a maior vergonha que alguém poderia experimentar, e Ele é nosso modelo.

Voltando ao desafio, notamos que Eliseu não tem nenhuma dificuldade para responder, afinal ele sabia muito bem o que ele queria. Você que está lendo este texto sabe bem o que está esperando da vida? O que está esperando que Jesus te faça? Quais são seus planos e projetos para os próximos anos? Eliseu tinha a resposta na ponta da língua, pois era isso que vinha buscando desde que a capa caiu sobre ele: Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim (II Rs 2:9c).

Elias sabia que um pedido como esse não poderia ser atendido por ele, e sim por Deus. E o bom disso é que ele não disse ser impossível, mas apenas difícil. Além de todas as dificuldades e condições que já observamos, o profeta diz que era necessário que o aspirante mantivesse os olhos nele quando ele fosse levado. Se pensarmos no que aconteceu com Elias como um arrebatamento, a exigência final para quem quer receber a unção dobrada é não tirar os olhos do arrebatamento da Igreja. Isso tem a ver com o entendimento de que este grande evento é iminente e que por isso não podemos viver dissolutamente. É preciso conhecer as prioridades do Grande Rei e investir tudo o que pudermos em seus planos de salvação, libertação, cura e transformação para expansão do Reino, pois logo seremos removidos; e aí, toda e qualquer unção deve já ter sido usada.

Quando estão caminhando tranquilamente, acontece o inusitado: um carro de fogo e cavalos de fogo passa entre os dois. Talvez esta seja a maior prova da determinação de Eliseu, pois qualquer um de nós preferiria olhar para o grande espetáculo do carro e dos cavalos. Mas o discípulo estava tão decidido que só tinha olhos para Elias, que à estas horas estava sendo levado em um redemoinho para o céu. Não há dúvidas de que o Altíssimo usará o Seu povo para operar grandes maravilhas nestes últimos dias, mas com tudo o que Ele operar, como já foi dito, nada pode tirar do compromisso de estarmos centrados no que o Rei deseja que façamos pra terminar o trabalho até o arrebatamento.

E o resto da história já é conhecido; pois o aspirante agora se tornou “os carros de Israel e seus cavaleiros”, título que ele dera a seu amado mestre.

O fim está chegando. Estamos em um tempo de guerras, fomes, pestes, terremotos, etc. É um tempo onde o amor de quase todos esfria e a iniqüidade se multiplica, pois a apostasia é grande e os homens são amantes de si mesmo.


Nunca foi tão necessário que o povo de Deus carregasse mesmo uma unção sem limites pra tocar no norte e no sul, no oriente e no ocidente. Na América, Europa, África, Ásia, Oriente Médio e Oceania são gigantescos os desafios. Você tem coragem de sair do meio dos filhos dos profetas e seguir o Espírito Santo por onde quer que Ele te guiar; pra receber mais de Deus, pra fazer mais pra Deus e para os povos, reinos, tribos, línguas e nações? 

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