O LIVRO DO PROFETA JONAS
Uma coisa bastante interessante a
observar quando se pretende dizer qualquer coisa sobre o profeta Jonas, é que muita
gente já ouviu falar algo sobre este personagem, até mesmo pessoas que não
conhecem muito bem a Bíblia. Em especial, entre os crentes, basta citar o nome,
e logo alguém exclama: sim, conheço – o profeta fujão! Será que esta era mesmo
a única característica que encontramos em Jonas? E será que ele é o único servo
de Deus que de alguma maneira tem tentado burlar a vontade de seu Senhor?
Vamos procurar durante este
pequeno artigo sobre o quinto livro dos profetas menores, elucidar um pouco
estas questões, além de aproveitar pra conhecer um pouco mais o ofício
profético deste homem que na verdade continua sendo muito necessário nos dias de hoje e igualmente
encontramos muitos “Jonas da atualidade” fugindo em muitas direções.
Como não poderia ser diferente,
iniciamos observando o capítulo um, o qual podemos dividir em três partes: o
chamado, a fuga e suas consequências.
O chamado
É bom observar que Deus nos cria
com propósitos e o chamado de Deus nada mais é do que o encontro do homem com
este propósito. Jamais alguém pode ser plenamente feliz sem o encontrar.
No caso da vida de Jonas, o
propósito de Deus para ele é que fosse um profeta. No Antigo Testamento haviam
ofícios honrosos e menos imprevisíveis como o sacerdócio, o reino e o juizado;
mas o mais complicado, difícil e rejeitado era o ofício profético. Não se podia
prever o que o privilégio de poder ouvir o coração de Deus traria como missão
ao profeta.
Jonas estava sendo comissionado
para o “simples” desafio de levar a comunidade de um dos povos mais violentos
de todos os tempos ao arrependimento, pois seu pecado era tão grande, que
tornou o céu inquieto. Além disso, os assírios, em especial o povo de Nínive,
eram inimigos do povo de Israel, o povo de Jonas; e para ele, não seria nada
mal ver os ninivitas sendo castigados por suas maldades, se possível, com a
morte. O texto bíblico mostra que o profeta conhecia a longanimidade do Senhor
e que se houvesse arrependimento do povo, Ele certamente os perdoaria e esse
era o grande temor do homem de Deus.
A fuga
Assim, ele escolheu fugir de seu
chamado e propósito, indo para o lugar mais longe conhecido até então pelos
Israelitas: Társis; uma região localizada, provavelmente, na costa da Espanha
atual. O interessante, é que para tanto, ele venceu o medo natural que seu povo
tinha do mar, pois foi até a cidade de Jope e tomou um navio para o destino
escolhido. É aí que começa a terceira parte.
As conseqüências
Esta é a maior e mais difícil
parte deste primeiro capítulo. Charles Spurgeon citado por Wiersbe (2006,
p.470), dizia que Deus não permite que seus filhos pequem com sucesso, e é o
que realmente encontramos em relação às conseqüências da decisão de Jonas.
Outro livro profético, o de
Habacuque, nos ensina que Deus nos faz andar em lugares altos, mas quando o
caminho escolhido é como o de Jonas, a única direção em que se segue é para
baixo. Jonas desceu para Jope, desceu para o porão do navio, ao ser lançado no
mar, foi jogado para baixo; e quando o peixe o abocanhou, o levou para as
profundezas do mar. Este descer faz parte das conseqüências da desobediência e
desvio. Além disso, vemos que tudo que Jonas quis usar como esconderijo do
chamado entrou em convulsão. O Senhor mandou ao mar uma grande tempestade, com
vento muito forte, a ponto de despedaçar o navio, e ainda que os marinheiros
tentassem, nada podia ser feito, pois a razão de tanta turbulência estava
adormecida no porão do barco. Essa letargia e sonolência também eram
conseqüências do desvio, afinal, fora do propósito não se encontra motivação e
ânimo para a aplicação da energia que vem de Deus.
Finalmente, os marinheiros se
viram obrigados a averiguar qual a razão de tanta perturbação. Da maneira
deles, perguntaram ao sobrenatural o que estava acontecendo e a resposta caiu
sobre Jonas, o qual não podendo mais se ocultar, resolveu se apresentar como
hebreu e temente ao Deus Criador do mar e da terra. Uma declaração que se
mostra incoerente, pois o pai da nação hebréia foi chamado para ser uma bênção
e ali estava um descendente seu trazendo maldição e risco de morte pra todos
que estavam no navio. Talvez, esta seja a pior conseqüência quando um enviado
de Deus se desvia do caminho traçado por Ele. Quando o que foi chamado para ser
luz se torna a causa de toda a escuridão que se apresenta.
Mas o pior de tudo, é que nessa
hora, Jonas poderia testemunhar para aqueles homens e se humilhar diante de
Deus, se arrependendo e confessando seu pecado e imediatamente recebendo o
perdão e a bonança. Isso poderia mostrar aqueles marinheiros o que realmente o
Senhor espera da humanidade. Infelizmente, o profeta preferiu ser lançado ao
mar com seu coração duro, a se render ante ao chamado do Todo Poderoso. Então,
provavelmente com o entendimento distorcido de que o Deus de Jonas era mais um
entre os deuses deste mundo, que apenas desejava a morte de seu servo desviado;
os marinheiros lançaram o profeta ao mar, o qual se aquietou juntamente com a
tempestade. O mar, o vento, a tempestade, os marinheiros e o grande peixe é que
acabaram testemunhando ouvir e obedecer à voz do Deus Vivo.
No final deste capítulo, começa
uma parte que nem os marinheiros ou homem algum pôde testemunhar: o tratamento
e a conversão do profeta Jonas. Ainda que pensasse estar mergulhando para a
morte, não foi isso o que aconteceu, mas um grande peixe preparado por Deus
abocanhou o servo do Senhor e dentro do mesmo ele esteve por três dias e três
noites; tempo suficiente para ele meditar e se arrepender da resistência fútil
à vontade do Altíssimo. Este é o tema do capítulo dois.
Dá para imaginar a cena: aquele
que de maneira tão orgulhosa marchou decididamente para longe do centro da
vontade de Deus, agora estava nas entranhas de um peixe, em meio às mais
estranhas substâncias que se possam encontrar num lugar como esse. Deus
verdadeiramente resiste aos soberbos como está escrito no livro de Tiago.
Quando acontece o desvio do
propósito de Deus, o resultado natural é a morte, e foi essa a interpretação
que Jonas deu a essa experiência. Inclusive, Jesus, cerca de 650 anos à frente,
usou este fato como um tipo de sua morte, sepultamento e ressurreição (cf. Mt
12:40; Lc 11:29,30). Jonas não morreu, mas foi como se tivesse morrido. Não foi
sepultado, mas o ventre daquele peixe foi como uma sepultura. E não ressuscitou,
mas quando demonstrou ter recuperado o juízo, escolhendo responder ao chamado e
confiar na misericórdia de Deus, o Senhor deu uma ordem e o peixe o vomitou na
terra, e ele recomeçou como quem tinha voltado à vida.
Um dos profetas maiores diz que as misericórdias do Senhor são a causa de
não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim (Lm 3:22).
Isto é confirmado no fato de que, ao iniciar o capítulo três, o Senhor volta a
falar com seu servo para que fosse à cidade de Nínive e proclamasse a mensagem.
Então, dessa vez, Jonas não se rebelou, mas levantou-se e partiu para o
cumprimento de sua missão.
Justamente o que Jonas mais temia
aconteceu. Ao proclamar que em quarenta dias Nínive conheceria o juízo de Deus;
desde o rei da cidade até os animais, toda a população da cidade entrou em
humilhação e arrependimento diante do Senhor, que se compadeceu e resolveu não
destruir a cidade, confirmando a mesma misericórdia que Jonas havia
experimentado no ventre do peixe.
Ainda que não haja uma afirmação
bíblica ou um consenso entre os estudiosos, tradicionalmente aceita-se o próprio
profeta como o autor deste livro. Tomando-se por base esta premissa, conclui-se
que a conversão no capítulo dois foi superficial e que só no capítulo quatro é
que Jonas consegue ampliar sua visão para o modo de Deus enxergar as coisas.
Quando este capítulo que é o último termina com uma pergunta, parece estar
querendo afirmar que o alvo final do texto é levar os leitores a uma meditação
mais profunda em relação ao segundo maior dos mandamentos: amar ao próximo como
a você mesmo (cf. Mt 22:36-40).
Jonas ficou todo emburrado como
um filho mimado que não recebeu algum presente que desejava. Mesmo conhecendo e
sendo beneficiado pela grande clemência de Deus, o enviado preferia que Nínive
fosse rebelde e destruída pela ira do Senhor. Tal era a angústia que mesmo
constatando o perdão de Deus para a cidade (v. 2), Jonas assentou-se desgostoso
e irado a ponto de desejar a morte para si mesmo, observando e com um fio de
esperança que algum mal sobreviesse à grande cidade.
Finalmente, neste ponto, o Deus
que se preocupa com sua obra e também com seu obreiro, aproveitou para tratar
com seu servo e ensinar sobre a universalidade de seu amor e graça. Usando uma
planta que com sua sombra trouxe um pouco de refrigério e alívio do sol ao
profeta, iniciou-se o processo. No dia seguinte, um bicho foi usado por Deus
para ferir a planta que havia sido um motivo de alegria para o homem de Deus,
que voltou a irar-se e desejar a morte. Então, o Grande Mestre completa o seu
ensino e tratamento: como Jonas pôde ter mais compaixão de uma planta que não
lhe havia custado trabalho algum e ao mesmo tempo não desejar que o Senhor não
se compadecesse de uma grande cidade que contava com uma população de cento e
vinte mil pessoas que ainda não possuíam a capacidade de discernir entre o certo
e o errado, além de muitos animais?
Como já foi dito, se foi
realmente o próprio Jonas quem escreveu este livro, ao terminar seu texto com
esta pergunta, ele dá a entender que com ela veio o seu despertamento e com ela
outros poderão ser despertados em quão duro, egoísta e orgulhoso se pode ser,
mesmo quando se conhece a Deus.
A FUGA E A DESOBEDIÊNCIA ENTRE OS CRISTÃOS
A partir desse questionamento,
meditemos um pouco sobre a Igreja da atualidade. Parece que mesmo não desejando
a destruição de cidades inteiras, ficar sentado e observando é a posição em que
mais se encontra o povo de Deus.
O livro de Jonas começa dizendo
que a palavra do Senhor se manifestou a ele. Em nossos dias, pelo menos na
igreja livre, todos têm seu exemplar da Bíblia Sagrada, onde se pode ter acesso
direto à vontade do Altíssimo, o qual nos deu o seu Espírito para nos iluminar
o entendimento. Então ambos obtiveram a revelação do propósito.
A Igreja também é enviada a
pregar o arrependimento, mas não apenas a uma grande cidade, e sim ao mundo
todo, anunciando a boa nova do Salvador e fazendo discípulos (cf. Mt 28:19,20;
Lc 24:47). Esta ordem já possui mais de dois mil anos e tem lugares do planeta
que o Evangelho e o nome de Jesus são coisas raríssimas. Ainda que a Igreja Primitiva,
através de Paulo e outros apóstolos, conseguiu atingir quase que a totalidade
do mundo conhecido de então com o Evangelho, isso não se estendeu até o nosso
tempo. Por quê? Pela mesma razão que muitos cristãos modernos acusam o profeta
Jonas: por pura desobediência e fuga da missão mais importante dada aos homens.
Na verdade, o povo de Deus tem
ido para o lugar mais distante possível do centro da vontade do Senhor. Assim
como Jonas foi para Társis, os crentes, ao invés de irem para o caminho do amor
ao próximo, escolheram o orgulho, a soberba, a indiferença, o conforto pessoal
e o egoísmo, procurando traçar seu próprio destino, de maneira independente
daquele que incoerentemente chama de Senhor (cf. Lc 6:46). Não se sabe qual era
o nome do navio em que Jonas embarcou para fugir de diante do Senhor, mas a
embarcação em que a Igreja atual se tem escondido pode ser nomeado de
“Laodicéia; o navio da apostasia, do sono e da letargia espiritual” (cf. Ap
3:14-22).
Enquanto a Igreja atual dorme,
entorpecida por suas campanhas que visam sempre seu benefício pessoal; enquanto
ela se embriaga com sua prosperidade burra que só lhe capacita a construir
impérios humanos e não o Reino de Deus; enquanto os evangélicos navegam em seus
sonhos de mega shows e mega eventos que em nada transformam o caráter do povo,
ou seja, enquanto o sono da morte espiritual trava a Igreja em seu mundinho
encantado, o mundo real, do qual a Igreja não faz parte, mas foi enviada a ele
para ser sal e luz (cf. Mt 5:13-16), entra em convulsão. Instituições preciosas
e fundamentais como o casamento, a família e o governo humano estão desabando
por falta de direção profética, algo que com certeza uma igreja viva tem
condições de ministrar.
Como os marinheiros, a
humanidade, ainda que não possa, tenta resolver as coisas a seu modo. Invoca
seus deuses e desperdiça coisas preciosas como os valores verdadeiramente
espirituais e as bases que regeram a sociedade até aqui, promovendo adoração á
demônios, sexo ilícito, consumo de drogas e mais violência para conter a
violência.
Será que a Igreja vai se
apresentar e admitir que por sua incompetência e desobediência ela se encontra
fora de sua posição e propósito, causando toda esta confusão? Nas Escrituras, o
mar simboliza as nações. Será que a Igreja vai pedir para ser lançada ao mar
das nações, a fim de cumprir sua grande missão? É bom lembrar que no livro de
Jonas, os marinheiros não tinham outra opção, pois era o Senhor que desejava
que isso fosse feito.
É claro que dessa vez não será
necessário que um grande peixe abocanhe a Igreja fujona. Basta apenas que ela
medite no que significou os três dias e três noites de Cristo no seio da terra:
Deus Pai julgando o pecado e descarregando a ira que a Igreja merecia em seu
próprio Filho, o qual, após cumprir sua missão, foi levantado dentre os mortos,
a fim de tomar as chaves da morte e do inferno das mãos do adversário. Expor as
forças das trevas à vergonha, obter o nome que está sobre todos os nomes e
também todo o poder nos céus e na terra. Pensando em tudo isso, como não se
humilhar, se arrepender e confessar seu pecados para assim, com muito afinco,
se voltar para sua comissão, afinal, o sangue de Jesus a lava e lhe autoriza a
marchar em vitória.
Jonas começou a descer quando foi
para Jope e só parou quando chegou nas profundezas do mar. Essa parece ser a
condição da Igreja moderna, pois o mar das nações com sua influência mundana
está sufocando o testemunho do povo de Deus. Ouve-se sobre os escândalos e
fracassos de lideranças que não têm nenhum cuidado com as ovelhas. O povo não
tem conhecimento bíblico e a vida de oração é muito fragilizada. Com isso tudo,
ao mesmo tempo em que a Igreja incha ao invés de crescer, se multiplica em seu
meio a prostituição, o adultério, o homossexualismo, a corrupção, o engano, a
divisão, a religiosidade, o legalismo, etc. É justamente dessa condição de
profunda vergonha que os crentes em Cristo precisam apelar para a clemência,
misericórdia e graça dele e promover um tempo de arrependimento e humilhação
genuína, pois certamente, Deus está pronto e desejoso de devolvê-los à sua
posição original: irem no nome de Jesus para fazerem as obras que Ele fez e
ainda maiores (cf. Jo 14:12).
Quando Jonas foi finalmente ao
encontro de sua chamada, ele havia sido perdoado e restaurado à sua posição
profética, e essa foi a base de sua autoridade e influência sobre o povo de
Nínive, as quais vinham do Senhor. Mesmo que o profeta não se desse conta, esse
entendimento é ministrado desde os dias do rei Salomão, quando o Altíssimo lhe
garante que se o povo que se chama pelo seu nome se humilhar, e orar e buscar a
sua face, se convertendo de seus maus caminhos, Ele ouviria dos céus, perdoaria
o seu pecado e sararia a sua terra. Jonas era o povo de Deus que havia se
concertado e pedido perdão em humilhação, e Nínive era a terra que foi sarada.
Se um povo como o assírio e uma
terra como Nínive puderam ser sarados, o que não poderá acontecer se a Igreja
de Cristo aplicar esta palavra de II Cr 7:14 e pedir para o Senhor sarar as
vidas, os casamentos, as famílias, cidades e nações inteiras para onde Ele a
tenha enviado, uma vez que conta com o convencimento do Espírito Santo (cf. Jo
16:8)? É hora da Igreja de Jesus se levantar e cumprir sua jornada.
Por fim, quando contextualizamos
o capítulo quatro, é importante lembrar que toda esta empreitada no anúncio do
Evangelho não se faz em benefício próprio. Mesmo não desejando a destruição de
povos e nações, às vezes o povo de Deus empaca e fica emburradinho como Jonas,
não querendo adorar e servir ao Rei dos reis. Assim como a planta que num dia
nasceu e no outro morreu, muitas vezes, ao longo da caminhada, Deus nos dá
muitos presentes; afinal, se a Igreja busca o Reino e sua justiça, Ele mesmo se
encarrega de suprir as necessidades (cf. Mt 6:33). O problema acontece quando
os servos querem ser servidos e que as coisas corram à sua moda. A Igreja
precisa ter consciência de que nada é mais importante do que o nome do Senhor
ser glorificado e o cumprimento da missão; e ainda que sofra aparentes perdas e
prejuízos na execução da mesma, não pode parar de louvar e adorar, afinal, o
que alegra e exalta o Deus Vivo é a salvação, libertação, cura e transformação
de vidas; e se isso está acontecendo no trabalho da Igreja, ela deve se sentir
honrada por isso.
Certamente, Deus há de ter
compaixão deste grande planeta, e a maneira dele demonstrar isso é levando sua
Igreja para testemunhar até os confins da terra. Que o povo de Deus mantenha
seu espírito sensível ao Espírito Santo, pois Ele o guiará a toda a verdade.
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